"- O que fiz da minha vida?
Pergunto a acercar-se o fim
E isto me ocorre em seguinda:
-Que fez a vida de mim?
Pude, então, reconhecer
Nos seus caprichos e ardis
Que nunca fui qem quis ser,
Fui somente o que ela quis!
Duma forma persistente
Tomou-me e me comandou,
Poderosa e prepotente,
De mim usou e abusou:
Deu-me tratos de polé
Tantas vezes que nem sei
Se deu culpas serei ré
E onde, quando e como errei!
Para o rumo que pretendi
Negou-me o seu forte impulso
E a tudo ao que ascendi
Tive de o fazer a pulso.
Recusou-me um terno abrigo,
Desfez projectos, ideais,
Persuadindo ser castigo
Por ter pedido demais.
Mais madrasta que madrinha
Demonstrou-me tal desdém
Que me pôs sò e velhinha
No deserto de ninguém.
Na sua mão sempre arteira
Que ambições fez em fiapos,
Eu fui boneca de trapos!
E embora o que é doce e bom
Raro o venha oferecer
E anto faça sofrer...
A vida é tão grande dom
Que vale a pena viver!"
{imagem: autoria desconhecida}
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