"Há coisas que me emocionam, sem nenhuma razão clara: os grandes salões com cheiro de casa fechada. Os jarros de porcelana que não foram comprados agora, que ninguém sabe quem comprou, e os empregados limpam, displicentes, com um pano velho, sem saberem que valor têm. Limpam como desde o princípio do mundo, sem ninguém mandar, sem ninguém ver... Os jarros que os criados mesmo assim amam, por hábito, e não desejam quebrar.
Também a luz das clarabóias. É uma luz que me eletriza, que me deixa completamente lírica, arrebatada para um outro mundo. Como se eu entrasse num ovo mágico, branco e fosco, esmerilado, e me tornasse invisível, e pudesse pensar.
E os lugares com eco, meu amor de menina, entre as cigarras.
E as casas pintadas de azul: os chalés rendados. As varandas.
Os dias de muita chuva, com trovões abafados, e ruas desertas.
Talvez Deus se resolva a destruir o mundo.
O mar tempestuoso.
A solidão, com os cães ladrando, longe, vendo a Morte.
Cheiro de terra molhada, com as cores das flores e a memória dos ossos.
Casas coloniais, baixas, todas fechadas. Ah! assombrações."
{imagem: Nataliya Ignatenko}
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