"Encontrei nos porões da alma
Um baú repleto de sentimentos
E dentro dele um relicário
Contendo as reticências
De meus versos inacabados
Num cantinho escondido
Um apanhado de palavras
Desordenadas e sem sentido
Que agitavam meu aflito coração
Enquanto que submersos na poeira
Ainda sobreviviam sufocados
Meus pontos de interrogação
Já no sótão de minha alma
Contos e poemas engavetados
Iam sendo carinhosamente afagados
Pelas mãos da minha imaginação
Enquanto restos de rimas impacientes
Suspiravam meio que perdidas
A procurar pela própria ilusão
Já que reféns das minhas entranhas
Fecundavam em mim sonhos e desejos
Como se possível ainda fosse
Engravidar-me novamente
Da saudade e da paixão"
"Ó, insensata e esguia puta! Estes versos que vos escrevo abstenho-me fúlgido da luxúria no quarto escuro e fétido em que te invadi com pecaminosa doçura.
Ó, infeliz e mal-amada puta! Te invadi sem ao menos tocar seus lábios sedentos, no coito frívolo em que o amor não se disputa, como dois animais pérfidos lamacentos mergulhados no vício da carne em amargura.
Neste quarto vil e fúnebre em que recebestes mais marujos e bêbados infelizes do que poetas, vivestes a eterna dor de se deitar sem receber os versos de oferta que de seus olhos despertariam a ternura."